- Querida chegamos. Tens a certeza que queres ir ?
- Sim tia. Tenho que experimentar, e só vou saber se gosto de for. Tenho a certeza absoluta.
- Ok, então vamos lá.
A minha tia passou a viagem toda a explicar-me como funciona o orfanato. Eu não queria admitir, mas lá no fundo tinha um pouco de receio. Será que estava preparada para a pobreza ali vivida ? E para a tristeza ? Só saberei quando entrar.
Mas nada, nem ninguém poderia me ter preparado para aquilo que senti. Aquele ar frio carregado de tristeza fez-me arrepios até a espinha. Aquele lugar era realmente sombrio e sem vida.
- Querida estás bem ?
- Sim tia, só não estava preparada para esta sensação.
- Eu compreendo-te, sei do que falas, também me sinto assim. Mas agora vamos lá falar com a directora para ela conhecer-te.
Ao entrarmos na sala, vi uma senhora com aproximadamente 50 anos, de óculos redondos engarrafados e com algumas rugas espalhadas pela cara , sentada na sua cadeira em frente a uma secretária. Esta devia ser a directora.
- Olá Dona Manuela. Trago aqui a minha sobrinha Joana para conhecer.
- Claro Maria entre. - pediu ela, seguidamente virando-se para mim. - Olá, deves ser a Joana.
- Sim, tenho muito prazer em conhece-la.
- Ora essa, o prazer é todo meu. Sabes que fiquei bastante contente quando a tua tia me ligou a pedir se poderias vir cá. Não é todos os dias que recebo jovens da tua idade para fazer voluntariado.
- Pois, acho que irá ser uma experiência nova, e tenho a certeza que vou gostar.
- Tenho a certeza que sim, apesar de tudo. Mas agora podem ir. desejo-te boa sorte Joana.
- Ok, até já Dona Manuela.
Quando eu já estava a sair, a Dona Manuela chamou-me. - Joana podes estar descansada que eu já informei todos que tu vinhas, portanto ninguém te vai estranhar.
- Hmm ok. Até já.
Quando entramos na sala onde estavam a maior parte das crianças e jovens órfãos, todos olharam directamente para mim, e disseram um lindo "Olá" em coro. Será que ensaiaram ? Ai que parva Joana. As coisas que tu pensas.
- Olá ! Tudo bem ?
- Sim. - responderam. Mas era óbvio que eles iriam responder que sim. Nem que o Mundo estivesse a cair eles diriam que "não" ... essa é uma característica destas crianças. Não querem que as pessoas à sua volta se preocupem com elas. São crianças que não têm muito, mas aquilo que têm dão para ajudar os outros. E é isso que admiro nelas.
Olhei em volta, e foi aí que vi um rapaz, com aproximadamente a minha idade, sentado num canto. Não sei o que me deu, mas fui até lá.
- Olá ! - disse, sentado-me na sua frente.
- Olá ! - respondeu-me ele um pouco seco, levantando a cabeça e foi aí que o vi. Ele era moreno com cabelo à surfista e os olhos verdes. Ele era um dos rapazes mais giros que alguma vez tinha visto. E depois havia alguma coisa nos seus olhos que me pareceu sincero, limpo.
- Tudo bem ?
- Sim.
Sim, pelos vistos só iria responder monossílabos. Não tinha sorte nenhuma. Ele também não me conhecia, porque motivo ele iria falar com uma desconhecida ? Mas nem que a vaca tussa ele vai continuar. Tenho que anima-lo. Ele parecia realmente triste.
- Se o mundo estivesse a desmoronar tu manterias a tua resposta ?
Ele riu-se. Já era um bom começo. O riso dele era tão musical.
- Não sei. Acho que tinha que passar pela experiência para saber.
- Eu cá acho que se respondesses que "sim", as pessoas iriam pensar que eras louco.
Ele gargalhou , mas ficou sério novamente e olhou-me nos olhos. - Tu és fixe. Não és como as outras.
- Oh obrigada. Espera aí. Isso era um elogio certo ?
- Claro. As outras raparigas só se aproximam de mim por ser giro, mas depois quando sabem a minha história, simplesmente afastam-se.
- Não devias ligar a esse tipo de pessoas . Sei como é, acredita.
- Sabes ? Acho um pouco impossível, mas tudo bem.
- Acredita que sei ... posso aparentar ter tudo o que quero, mas não é bem assim. A minha história é muito mais complexa que isso. - disse suspirando. - Mas vamos parar de falar de mim. Quero saber o motivo de estares aqui sozinho com essa cara.
Ele olhou para mim, directamente nos olhos, e deve ter encontrado lá alguma coisa que o fez decidir contar-me.
- Como tu deves imaginar, eu não tenho família, e daqui a 1 semana faço 18 anos, portanto já estou a atingir a idade adulta, e hoje a directora chamou-me, e disse-me que daqui a uma semana terei que abandonar o orfanato.
- E tu não podes fazer nada, para ficares pelo menos mais 1 mês ?
- Não. São as regras daqui e eu tenho que cumprir. Eu já sabia que mais tarde ou mais cedo iria acontecer.
- Mas tu ao menos tens algum trabalho ? Ou alguma poupança ?
- Tenho, mas são poucas, nem dariam para um mês.
Abracei-o. Sabia que ele precisava disso. - Não te preocupes, NÓS os dois vamos arranjar uma solução. - disse eu dizendo bem a parte do "nós".
- Não precisas de te preocupar, eu cá me arranjo.
- O tanas. Desculpa mas eu sempre que posso ajudo os meus amigos, e eu vou ajudar-te.
Ps : Este dia passa-se numa Quinta-feira.
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